Caro(a) leitor(a),
Nesta semana uma sequência de acontecimentos internos seguiu impulsionando a bolsa de valores brasileira para baixo, fazendo o índice Ibovespa (IBOV) recuar. Listamos como destaques na publicação de hoje: reunião do Copom, expectativas de descumprimento do teto de gastos, contínua ascensão da inflação, novos dados sobre geração de emprego e o recorde de arrecadação federal para setembro. Além disso, também trataremos de assuntos no âmbito externo, voltando a falar sobre dois temas: incorporadora Evergrande e importação de carne brasileira pelo mercado chinês.
Boa leitura!
Reunião do Copom – Selic
O Copom, Comitê de Política Monetária do Banco Central, decidiu na quarta (27), por unanimidade, elevar a taxa básica de juros da economia (SELIC) em 1,5 pontos percentuais, de 6,25% ao ano para 7,75%. Assim, a SELIC passa a situar em seu maior patamar desde setembro de 2017, quando estava em 8,5% ao ano. Além disso, destaca-se que este foi maior aumento em uma única reunião desde dezembro de 2002, quando o Comitê elevou a Selic em três pontos percentuais.
Na decisão, o Copom destacou que o cenário para países emergentes está mais desafiador, dada a persistência da inflação. Além disso, também foram apresentados dados da economia brasileira que vieram abaixo do esperado, bem como alta dos preços acima das expectativas. No comunicado, o comitê diz ainda que prevê um ajuste igual na próxima reunião, que acontecerá em 8 de dezembro. Com uma nova elevação, os juros irão para 9,25% a.a, mesmo nível de julho de 2017. A reunião desta semana foi a sexta consecutiva em que o Banco Central decidiu pela elevação na taxa. A medida já era esperada por analistas, que preveem que o índice chegue aos dois dígitos no próximo ano.

Expectativas de descumprimento do teto de gastos
Aprovada em 2016 durante o governo Michel Temer, a PEC do Teto de Gastos foi uma das principais diretrizes de política econômica para equilíbrio nas contas públicas e controle da dívida. A partir do início desta nova regra, o crescimento das despesas do governo ficou limitado à variação da inflação, ou seja, sem reajustes reais (até o ano de 2036). A ancoragem de expectativas na política fiscal, promovida pelo Teto de Gastos, é apontada por diversos economistas como fundamental para a considerável queda na SELIC entre 2016 e 2020.
Entretanto, ao longo dos últimos meses, declarações de autoridades do governo federal geraram desconfiança nos mercados quanto ao cumprimento do Teto de gastos. Com o objetivo de promover políticas sociais de transferência de renda, como o programa Auxílio Brasil (o novo “bolsa família”), o Ministério da Economia admitiu a possibilidade deste ser financiado com cerca de R$30 bilhões fora do Teto de Gastos. Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados, chegou a afirmar que o programa “vai ferir um pouco o teto”.
Diante desta série de incertezas quanto ao gerenciamento da política fiscal, em um cenário que a dívida pública já se encontra em patamares elevados (e, também crescentes, dado as medidas de combate à pandemia de Covid-19), a curva de juros futuro apresentou forte movimento de alta nessas últimas semanas. Tal dinâmica impacta ativos de renda variável, dado que o retorno relativo da renda fixa volta a ser mais atrativo em um contexto de taxas de juros maiores.
Inflação para o mês de outubro foi a maior desde 1995
Em meio a incertezas no âmbito fiscal e contração da política monetária, via aumento da SELIC, dados prévios de inflação para o mês de outubro também causaram preocupações no mercado financeiro. Conforme informado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo -15 (IPCA-15) acelerou para 1,20%, se configurando como a maior para o mês de outubro desde 1995. O indicador funciona como prévia do IPCA, índice usado pelo governo como referência para cumprir a meta de inflação.

Dados do mercado de trabalho em setembro vieram abaixo do esperado
Durante o mês de setembro, foram abertas 313.902 vagas de empregos formais em todo Brasil, de acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED). Ainda que a variação tenha sido positiva, esta veio abaixo das expectativas do mercado e do observado no mesmo período de 2020. Seguem as variações por setor da economia:

No acumulado de 2021, foram geradas 2.512.937 vagas formais no mercado de trabalho. Onyx Lorenzoni, Ministro do Trabalho, afirmou que espera mais geração de empregos ainda este ano.
A geração de empregos formais é fundamental para a recuperação da economia, principalmente via aumento do consumo das famílias. Entretanto, a elevação na taxa SELIC prevista para os próximos trimestres pode trazer impactos negativos para o mercado de trabalho. Com juros mais altos, empréstimos e financiamentos ficam mais onerosos para empresas e, consequentemente, estas passam a realizar menos projetos de investimento e a contratar menos trabalhadores.
Por outro lado, a arrecadação federal registrou recorde em setembro
Totalizando mais de R$149 bilhões em setembro, a arrecadação federal bateu recorde para o mês desde 1995, início da série histórica. Tal montante foi 12,87% maior do que o observado no mesmo período do ano anterior, em valores já corrigidos pelo IPCA, indicador oficial de inflação no Brasil. Além disso, destaca-se que a arrecadação para setembro ficou acima do esperado por instituições financeiras. Já no acumulado dos nove primeiros meses deste ano, a arrecadação federal totalizou R$1,349 trilhão, valor 22,3% acima do mesmo período do ano anterior, também em valores atualizados pelo IPCA.
O aumento da arrecadação está intrinsicamente ligado à recuperação da economia neste ano, cujo crescimento está estimado em 5%. Um outro fator que também elevou a arrecadação federal foi o pagamento de tributos que foram suspensos no início do ano, por conta do agravamento da segunda onda de Covid-19 na época.
Entretanto, destaca-se que as projeções de crescimento do PIB para 2022 estão sendo revisadas para baixo há semanas, devido às incertezas fiscais e elevação na taxa SELIC, que encarece o custo do investimento produtivo e torna mais oneroso o crédito para consumo. Altamente correlacionada com o desempenho da economia, a arrecadação federal pode, portanto, ser impactada negativamente com um PIB menor.

Pagamento parcial da dívida com fortuna própria – Evergrande
Visando solucionar o problema do alto endividamento da maior incorporadora do país, o governo chinês exigiu que o fundador do grupo Evergrande, Xu Jiayin, usasse sua própria fortuna para arcar com parte da dívida da empresa. Entretanto, a agência Bloomberg News informou que o patrimônio de Xu está atualmente na casa dos U$ 8 bilhões, valor muito aquém dos U$ 300 bilhões devidos pela empresa.
No mês passado, a crise da dívida da Evergrande veio à tona e gerou grandes incertezas nos mercados financeiros e imobiliários globais. Analistas temiam que os problemas de liquidez da empresa contaminassem o restante da economia da China, algo que abalaria o restante da economia global. No dia 22 de setembro, bolsas mundiais registraram forte queda com os temores de calote da empresa. Neste dia, a bolsa brasileira registrou baixa de -2,33%.
Ainda de acordo com a Bloomberg, governos locais da China monitoram as contas bancárias da empresa para que esta use seus recursos para conclusão de projetos imobiliários e não para pagamento da dívida.
Diante desses impasses, os mercados globais agora esperam posicionamento do presidente chinês, Xi Jinping, para ver se ele conseguirá cumprir sua promessa de desalavancar o setor imobiliário chinês sem comprometer a recuperação econômica da nação asiática.
Expectativa de Fim do Veto Chinês à Carne Brasileira
Após quase dois meses o governo chinês voltou a autorizar importação de carne bovina brasileira. Entretanto, a China permitiu a entrada apenas de um lote que estava aguardando liberação em um dos portos do país. Assim, o embargo ao produto brasileiro se mantém, ainda que não exista risco de propagação da doença, de acordo com relatório da Organização Mundial da Saúde Animal (OMSA).
No início de setembro, o Brasil teve suas exportações de carne bovina à China interrompidas após identificação de dois casos de vaca louca em frigoríficos localizados nos estados de Mato Grosso e Minas Gerais. O País, maior exportador mundial de carne bovina, tem na China o seu maior mercado consumidor.
Mesmo com a continuidade do bloqueio ao produto brasileiro, representantes do governo e do setor estão otimistas quanto ao fim das restrições. A própria Ministra da Agricultura, Teresa Cristina, que pretendia ir à China para tentar dar avanço às negociações, não realizou a viagem devido as expectativas positivas quanto a solução deste impasse comercial.