O Comitê de Política Monetária anunciou hoje um aumento da taxa de juros básica – SELIC -, em busca de diminuir a inflação no país. O conceito de taxa de juros gera muitas dúvidas sendo, diante o cenário que nos encontramos, de extrema importância compreender o seu significado.
Os juros estão presentes em diversas situações de nosso cotidiano: na fatura do cartão de crédito, em compras financiadas, nos empréstimos e nos rendimentos dos investimentos e influenciam muitas de nossas decisões. Esses exemplos nos ajudarão a entender o que são as taxas de juros e como funcionam.
O que são as taxas de juros?
O ponto em comum dos exemplos citados é que todos envolvem transferência de recursos entre dois agentes econômicos: um credor e um tomador. Dessa forma, as taxas de juros farão o papel do custo do dinheiro. Isto é, a remuneração exigida pelo credor para que empreste os recursos ao tomador.
Essa transferência de recursos pode ser uma compra no cartão de crédito, por exemplo, em que a instituição emissora “adianta” os recursos gastos pelo portador. A lógica é a mesma em operações de investimentos (especialmente nas de renda fixa). Quando compramos um CDB, estamos emprestando dinheiro à instituição emissora e recebendo a remuneração dos juros! Dessa forma, as taxas de juros são utilizadas para remunerar o dinheiro ao longo do tempo.
O custo desses recursos, no entanto, pode variar bastante a depender da natureza da operação e características dos agentes envolvidos. O cheque especial, por exemplo, cobra juros exorbitantemente altos, principalmente pelo fato de ser disponibilizado para pessoas com maior probabilidade de inadimplência.
Também notamos uma diferença bastante grande entre os juros praticados em diferentes países: no Brasil os juros são substancialmente maiores que em países desenvolvidos como os EUA. O principal motivo para isso se dá ao maior grau de inadimplência e dificuldade de cobrança do país sul-americano. Em outras palavras, os juros também remuneram o risco corrido pelo credor.
E como as taxas de juros influenciam nas decisões dos investidores e na economia?
Como citamos, as taxas de juros funcionam como uma forma de remuneração do dinheiro ao longo do tempo. Por isso, naturalmente, o comportamento das taxas de juros impacta nas decisões de consumo e investimento dos diversos agentes de uma economia e consequentemente no desempenho dessa economia.
Pensemos no seguinte exemplo ilustrativo: uma operadora de planos de saúde que deseja expandir suas operações sem queda de qualidade percebida. Para isso, observa ser necessário expandir sua estrutura hospitalar, investindo nas obras de expansão, aumentando o consumo de insumos e contratando mais pessoas para a equipe.
Essa operadora de planos de saúde estará muito mais propensa a realizar esses investimentos num cenário em que os juros se encontram baixos. Isso se deve ao custo do dinheiro, ou seja, à taxa de juros. A baixa da taxa de juros age de duas formas, “incentivando” a operadora a realizar os investimentos: reduzindo o custo de tomar empréstimos e/ou reduzindo o custo de oportunidade – que seria manter esses recursos em caixa.
Uma situação semelhante, pensando nas pessoas físicas, seria a decisão de reformar ou reparar a residência da família. No cenário em que essa família não disponha imediatamente dos recursos necessários para a obra, adquirir uma dívida – num cenário de juros mais altos – seria mais caro e consequentemente menos interessante, desincentivando essa decisão.
Nossos exemplos poderiam ser alterados para diversas situações, sejam no ambiente corporativo ou familiar, seja na troca do carro ou reforma da casa da família, expansão de operações ou novas contratações.
Por fim, cabe ainda ressaltar o efeito que as taxas de juros têm nos investimentos financeiros. Com juros mais baixos, as empresas investem mais em suas operações, expandindo-as. Dessa forma, a perspectiva de resultados futuros dessas companhias, em geral, eleva-se.
Tal fato somado à queda da remuneração dos investimentos de renda fixa (devido aos juros menores) favorecem a atratividade dos investimentos em renda variável. Dessa forma, tudo mais constante, num cenário de juros baixos, o investimento em bolsa de valores se torna mais atrativo que em cenários de alta. Essa relação inversa é evidenciada pelo gráfico abaixo: o cenário de queda na SELIC (taxa que norteia as demais taxas de juros da economia) favorece o desempenho da bolsa de valores.