Boa tarde, caro leitor!
Em 2021, com a deterioração das expectativas e do desempenho econômico do país, a inflação voltou a ser um dos protagonistas no noticiário brasileiro. Muito se discute sobre sua aceleração e seus efeitos perversos para a população, mas, muitas vezes, a percepção é de que a mudança percebida nos preços não é exatamente a divulgada nos índices de inflação. Por que isso acontece?
O que é a inflação?
Primeiramente, cumpre esclarecer o que é o fenômeno inflacionário: a inflação é um aumento contínuo e generalizado dos preços em uma economia, usualmente em um intervalo definido de tempo.
No entanto, essa definição nos dá como resultado um ponto que dificulta o estudo do tema: é bastante delicado definir o que seria um aumento de preços generalizados, visto que o aumento pontual do preço de um bem, por si só, não necessariamente significa um processo inflacionário.
Ademais, é relativamente difícil definir uma cesta de bens que represente o consumo de boa parte da população em suas peculiaridades geográficas, culturais e econômicas. E é isso que os índices de inflação buscam fazer.
Índices de Inflação e seus componentes
Para solucionar essa dificuldade de medição, foram criados os chamados índices de inflação, ferramentas empregadas para medir a variação de preços e o impacto no custo de vida da população. Existem índices “mais gerais” como o IPCA, IPC (FIPE) e IGP-M e índices mais específicos, que medem variações de preços dentro de determinados setores, como o INCC (Índice Nacional de Custo da Construção).
O índice adotado como oficial para medição da inflação no Brasil foi o IPCA, calculado pelo IBGE. Ele é calculado a partir de uma amostra das principais áreas urbanas, colhendo preços de cerca de 30 mil estabelecimentos comerciais.
Deste fato já obtemos uma das respostas para o título deste texto, visto que os preços não necessariamente variam da mesma maneira por todo o país e, por isso, um consumidor que reside em determinada área pode perceber uma variação maior que a média divulgada do índice.
Para calcular a inflação geral, o IPCA utiliza uma cesta de bens, divididos nas seguintes categorias e pesos:

Sabendo disso, levanta-se outro questionamento que nos ajuda a responder a dúvida do título deste texto: diferentes cestas de consumo terão, naturalmente, diferentes “inflações”.
Diferentes cestas de consumo, diferentes “inflações” percebidas
Posto isso, fica evidente que a principal resposta para que alguns consumidores percebam uma inflação maior do que a medida pelo IPCA são diferenças na cesta de consumo.
O próprio Banco Central do Brasil realiza alguns estudos comparando a inflação por diferenças de renda. A ideia central deste tipo de estudo é que, conforme varia a renda, varia a cesta média de consumo. Por exemplo, consumidores de renda menor, em geral, consomem percentual maior de sua renda com alimentação e transportes – assim, caso os preços destes bens e serviços cresçam mais (como aconteceu com os alimentos em 2021), a inflação percebida será maior.
Outro fator que pode alterar a cesta de consumo é a região em que o consumidor habita. Além de diferenças nos itens utilizados na alimentação e nos transportes (distância percorrida e modais utilizados), o momento demográfico que o município em questão se encontre pode realizar pressão sobre os preços de habitação.